Quem foram as mulheres mais impactantes no tênis?
De 25 de novembro a 10 de dezembro, nós celebramos o Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres. Considerando o passado ou mesmo os dias atuais, as mulheres já sofreram muita discriminação e foram consideradas inferiores aos homens de muitas maneiras. Embora esse tipo de coisa seja menor hoje em dia, elas ainda persistem.
No século 20, essas atitudes erradas contra as mulheres encontraram seu auge. Em meio à toda tensão, guerra e racismo, o tênis viu mulheres com espírito de luta que subiram o sarrafo dos padrões do tênis. Confira uma lista com 8 das mulheres lutadoras mais proeminentes.
Althea Gibson
Provavelmente o maior oponente que Althea Gibson enfrentou em sua carreira foi o racismo. Sozinha, ela foi uma das melhores atletas femininas no tênis antes do início da Era dos Abertos. Inicialmente, ela criou gosto pelo basquete. Depois do basquete, ela se tornou craque do padel. Foi só em 1940 que Gibson pegou numa raquete de tênis pela primeira vez. Ela se apaixonou tão ardentemente pelo esporte que ela venceu um torneio na American Tennis Association em 1944 e em 1945 na divisão feminina.
Em 1947, ela venceu o ATA Championships na categoria feminina. Walter Johnson, que mais tarde se tornaria treinador de Arthur Ashe, abrigou Gibson. Em 1949, o mundo viu pela primeira vez uma atleta negra entrar nas quadras fechadas do USTA. Ela quebrou a barreira da cor em Wimbledon pela primeira vez em 1951. Althea Gibson estava em seu auge em 1956, 1957 e 1958. Em 1957, ela se tornou a primeira tenista negra a vencer um título em Wimbledon e a primeira atleta a receber o troféu pessoalmente da rainha.
Apertar a mão da Rainha da Inglaterra foi um marco impressionante para alguém que já foi forçada a sentar na seção para pessoas de cor no ônibus para o centro de Wilmington, Carolina do Norte. Depois de uma carreira impressionante que incluiu 11 títulos de Grand Slam, dos quais seis foram nas duplas, Althea Gibson se aposentou do circuito em 1958.
“Quando eu olhava ao meu redor, eu via que tenistas brancas, sendo que algumas delas eu destruí nas quadras, estavam recebendo ofertas e convites. De repente me ocorreu que os meus triunfos não destruíram as barreiras raciais de uma vez por todas, como eu—talvez ingenuamente—esperava. Ou, se eu as destruí, elas foram erguidas de novo atrás de mim.”
Gibson percebeu que o tênis profissional não estava resolvendo sua vida financeiramente. Então ela se tornou vocalista e saxofonista. Ela se tornou jogadora de golfe posteriormente, onde ela enfrentou muita discriminação. Apesar de suas várias conquistas e recordes no golfe, ela não tinha permissão de ficar em hotéis e clubes. Muitas vezes, ela teve que trocar de roupa no carro antes de entrar num torneio.
No final dos anos 1980, Gibson sofreu duas hemorragias cerebrais. Ela não tinha dinheiro para o tratamento. Agora vem a parte em que as organizações de tênis mostraram sua natureza suja. Elas se recusaram a ajudá-la com o tratamento quando Althea pediu ajuda. Angela Buxton, que foi parceira de duplas de Gibson em seus títulos de Grand Slams a ajudou angariando US$1 milhão com doações ao redor do mundo. Althea Gibson morreu em 2003, mas deixou para trás um legado que foi fonte de inspiração para as irmãs Williams.
“Eu sempre quis ser alguém. Se eu consegui, metade foi porque eu topei sofrer muita punição ao longo do caminho e metade porque houve várias pessoas que se importaram o suficiente para me ajudar.”
Helen Wills Moody
De 1922 a 1932, houve uma mulher que dominou o tênis como nenhuma outra. Helen Wills Moody, vencedora de impressionantes 31 títulos de Grand Slam, que incluem títulos de simples, duplas e duplas mistas, foi a Nº. 1 do Mundo por 9 longos anos. Ela era famosa por praticar com homens para melhorar seu estilo de jogo. Introvertida por natureza, Helen ironicamente foi a primeira tenista americana a ter laços com a realeza e com estrelas do cinema.
Hazel Hotchkiss Wightman disse: “Helen era realmente uma garota sem confiança e [socialmente] desajeitada—vocês não fazem ideia do quanto ela era desajeitada…. Eu pensava em Helen como uma pessoa honestamente tímida desconcertada pela grande dificuldade de agradar à maioria das pessoas”. Em 1933, ela derrotou o 8º tenista do ranking masculino na época. De 1919 a 1938, Helen teve uma sequência de vitórias de 158 partidas, período no qual ela não perdeu um único set.
“Eu tinha um pensamento, que era mandar a bola para o outro lado da rede. Eu era simplesmente eu mesma, concentrada profundamente demais no jogo para ter qualquer pensamento externo.”
Apelidada de “Little Miss Poker Face”, com a ajuda de seu poderoso jogo na linha de base e serviços que eram principalmente fatiados, Helen se tornou em 1928 a primeira tenista a vencer três títulos de Grand em um ano. Helen venceu 8 títulos de Wimbledon, um recorde que só foi ser superado por Martina Navratilova. Helen era tão dominante em Wimbledon que ela perdeu apenas uma partida das 56 que disputou ali.
A porcentagem geral de vitórias de Moody era de mais de 90 por cento, o que justificava o seu título de “Rainha Helen”. Ela ganhou duas medalhas de ouro olímpicas durante seu reinado. Em 1998, Helen deu seu último suspiro. Ela inspirou várias tenistas ao longo dos anos e ainda é considerada uma das maiores atletas que o tênis já produziu.
“Eu amo a sensação de acertar a bola com força, o prazer de um rali. São essas coisas que fazem do tênis o jogo delicioso que ele é.”
Suzanne Lenglen
A primeira celebridade da história do tênis foi a sempre extravagante e graciosa Suzanne Lenglen. Não só no tênis, Lenglen foi uma das primeiras estrelas dos esportes internacionais. Ela venceu 341 partidas e perdeu apenas 7. Essas partidas a ajudaram a conquistar 241 títulos com uma taxa de vitórias de 98%. A imprensa francesa a apelidou de La Divine, que pode ser traduzido como “A Deusa”. Quando estourou a Primeira Guerra, a carreira de Lenglen no tênis foi interrompida; era o que acreditavam.
Para reconstruir as áreas danificadas na França, Lenglen jogou partidas de exibição e angariou fundos. Ela foi a primeira mulher a quebrar os estereótipos prevalentes da época no que dizia respeito aos trajes femininos. Enquanto as outras tenistas usavam um traje que cobria quase que o corpo inteiro, Suzanne Langlen usava um vestido que revelava seus antebraços e também era cortado logo acima das panturrilhas. Ela foi a primeira estrela do tênis feminino a se tornar profissional.
Lenglen foi Nº.1 do ranking mundial de 1921 a 1926. Ela ganhou três medalhas olímpicas, duas medalhas de ouro e uma de bronze. Uma das atividades chocantes que Lenglen fazia nas quadras era dar um gole de conhaque entre os sets. Em 1926, ela se tornou a última francesa a vencer o Aberto da França até Amelie Mauresmo quebrar a maldição em 2006. O troféu feminino presentado à vencedora do Aberto da França é conhecido como Coupe Suzanne Lenglen em sua homenagem. A segunda quadra de Roland Garros também é batizada em sua homenagem.
Em 2001 a Federação Internacional de Tênis anunciou um torneio para as jogadoras acima dos 35 anos, a Copa Suzanne Lenglen. Lenglen sofreu com várias doenças ao longo de sua carreira. Asma crônica e icterícia afetaram imensamente sua trajetória. Ela foi diagnosticada com leucemia em 1938 e três semanas depois, ela ficou cega. Um mês depois, ela morreu de anemia perniciosa. Uma jogadora tão graciosa como Lenglen certamente não merecia uma morte tão brutal. Ela deixou um legado para trás, foi uma lançadora de modas e uma inspiração para gerações de tenistas mulheres.
“Ela sentia um amor por cada set como o que um pintor sente por sua obra-prima; cada ace era uma forma de pincelada para ela, e seus ataques fantasticamente precisos certamente eram um estudo em composição.” ― Janet Flanner
Ewonne Cawley
Ewonne Cawley é considerada a segunda mulher a ocupar o lugar mais alto da história do tênis feminino. Ela venceu 14 títulos de Grand Slam e é a única mulher a vencer o Aberto da França em sua primeira tentativa. De uma família aborígene australiana, Cawley enfrentou muita discriminação na Austrália naquela época. Ela dominou o esporte nos anos 70. Mas apesar de seu domínio nos Grand Slams nessa época, ela jamais conseguiu vencer o título do simples no Aberto dos Estados Unidos. Ela chegou à final quatro vezes seguidas e é a única mulher a conseguir tal feito. Porém, não é por isso que ela se tornou famosa.
Ewonne Cawley se tornou a primeira mãe na história a conquistar um título de Grand Slam depois da Primeira Guerra. Ela deu à luz uma menina em 1977 e venceu Wimbledon em 1980, o segundo dos seus dois títulos de Wimbledon, sendo que o primeiro ela conquistou em 1971. Anos depois, em 2009, Kim Clijisters se tornou apenas a segunda mãe a vencer um título de Grand Slam em Flushing Meadows. O troféu dado à campeã do Brisbane International foi batizado em sua homenagem. Victoria Azarenka é quem alcançou o maior número de finais em Brisbane e venceu em duas delas. Ela atualmente está grávida e fora do circuito. Vamos torcer para que ela tire alguma inspiração e nos surpreenda com um Vika Slam!
Maud Watson
Em 1884, Wimbledon introduziu o campeonato feminino de simples. Vestindo corset e anáguas brancos, Maud Watson se tornou a primeira mulher da história a vencer o título com apenas 19 anos. Ela defendeu seu título em 1885. Em 1886, Wimbledon introduziu a rodada do desafio, na qual Watson foi derrotada. Ela nunca mais voltou às quadras de Wimbledon. Watson se aposentou em 1989. Ela também serviu como enfermeira durante a Primeira Guerra e foi homenageada como “Membra da Ordem do Império Britânico”.
Hazel Hotchkiss Wightman
Hazel Wightman foi uma visionária que dominou o tênis feminino antes da Primeira Guerra. Ela tinha baixa estatura e precisava de uma tática para compensar sua desvantagem. Como resultado, ela se tornou a primeira mulher a introduzir o voleio no tênis feminino. Ela ganhou duas medalhas de ouro olímpicas e conquistou 45 títulos em sua vida. Quando venceu seu último título, ela tinha 68 anos. Ela é conhecida como “Lady Tennis” e “Rainha Mãe do Tênis Americano”, pois ela desempenhou um papel fundamental na promoção do tênis feminino.
Wightman tinha grande interesse em organizar um equivalente da Copa Davis no circuito feminino. Seus esforços valorosos não foram em vão. O Ladies International Tennis Challenge foi realizado entre os times femininos britânico e americano em 1923. Esse torneio é mais conhecido como a Wightman Cup. A última edição do torneio foi disputada em 1989. Wightman não foi só uma tenista bem-sucedida, mas também uma treinadora fantástica. Helen Wills Moody, Helen Jacobs e Sarah Palfrey Cooke são algumas das campeãs que ela treinou. Em 1973, Wightman foi indicada como Comandante Honorária da ordem do Império Britânico.
Doris Hart
Doris Hart sofreu osteomielite quando criança, o que a levou a ter uma perna direita permanentemente deficiente. Apesar de sua deformidade, o amor de Doris Hart pelo tênis nunca se intimidou. Ela costumava ver crianças da sua idade jogando tênis num parque próximo. “Eu decidi que assim que meu joelho ficasse bom, eu começaria a jogar tênis e seria a melhor tenista possível”. Mas a infecção nunca foi tratada. Os médicos sugeriram a amputação, mas Doris recusou. Ela começou a jogar tênis aos dez anos, e quando ela completou 16, ela estava entre as dez melhores tenistas americanas.
“Nunca sinta pena de si mesmo. O único antídoto para o veneno da autopiedade é fé, coragem e paciência”.
Ela se tornou a primeira tenista a completar um Career Boxed Set – vencer todos os Grand Slam nas categorias simples, duplas e duplas mistas. Ela dominou o esporte no final dos anos 40 e início dos anos 50 e chegou a ser Nº. 1 do ranking em 1951. Ela também se tornou a primeira tenista a vencer a tríplice coroa no Aberto da França em 1952 e no Aberto dos Estados Unidos em 1954. Anos depois, Margaret Court e Martina Navratilova seriam as últimas a conquistar o Career Boxed Set.
“Ela fazer o que fez foi especial porque ela não podia correr tão bem quanto as outras pessoas. Por outro lado, ela era esperta.” – Shirley Fry, parceira de duplas de Doris Hart.
Em 2004, Doris disse que não gostava do tênis feminino moderno.
“Não tem muita estratégia envolvida”, ela disse. “Não é atraente de se assistir, eu acho”.
Charlotte “Lottie” Dod
Lottie Dod foi e ainda é a jogadora mais jovem a conquistar o título feminino de Wimbledon em 1887, aos 15 anos. Ela ainda conquistou o título mais quatro vezes, sendo que o último veio em 1893. Lottie Dod não foi famosa só como tenista. Dizem que ela era a atleta feminina mais versátil de acordo com o Guinness Book graças aos seus feitos em arquearia, golfe e hóquei na grama. Na imprensa, ela foi apelidada de “Pequena Maravilha”.
Naquela época, a pegada de Lottie na raquete de tênis era considerada ortodoxa. As pessoas agora percebem que a pegada de Lottie é a mesma que os tenistas modernos usam. Ela também teria derrotado Ernest Renshaw numa partida de exibição. Ela também ganhou uma medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Verão de 1908. Os historiadores do tênis dizem que Lottie nunca perdeu uma partida em Wimbledon. Ela acreditava que os trajes femininos deveriam ser projetados de modo a não interferir na prática do tênis. Por conta dessa ideologia, ela usava um chapéu em vez de uma boina feminina.
Em 1960, Lottie Dod estava ouvindo um comentário no rádio sobre Wimbledon enquanto estava sentada na Casa de Repouso Birch Hill quando teve uma queda fatal. Minutos depois, ela deu seu último suspiro aos 88 anos.